O que é correto: chamar de paciente, cliente ou analisante? Essa pergunta carrega uma série de implicações teóricas e históricas dentro da psicologia e da psicanálise. Bora explorar essas diferenças!
Historicamente, a psicologia teve uma forte influência da medicina, e por isso, os psicólogos chamavam aqueles que atendiam de "pacientes", replicando o modelo médico. O termo remete a uma relação tradicional de cuidado, onde o profissional detém o conhecimento e conduz o tratamento, enquanto o paciente assume uma posição mais passiva. No entanto, essa visão foi sendo questionada ao longo do tempo.
Proveniente da psicanálise, a crítica ao termo "paciente" advém principalmente de que esta palavra remete a uma passividade e a uma posição de aguardar que outra pessoa faça algo a respeito de sua questão. Isso, em psicanálise, é a última coisa que vai acontecer! Quem mais trabalha numa análise é o analistante. Trabalha dentro da sessão, trabalha entre sessões, trabalha consciente e inconscientemente. O terapeuta psicanalista acompanha todo este trabalho, mas de "paciente", o analisante não tem nada.
Com o desenvolvimento de diferentes abordagens psicológicas, especialmente as humanistas, houve um movimento para abandonar o termo "paciente". O argumento central era que essa terminologia colocava a pessoa atendida em uma relação de submissão, enquanto o terapeuta assumia uma posição de autoridade.
A palavra "cliente" passou a ser adotada em algumas abordagens para enfatizar a autonomia da pessoa e destacar que ela é um agente ativo no processo terapêutico. No entanto, parece-me que o termo também carrega uma carga comercial, remetendo à ideia de compra e venda de um serviço, o que pode não ser ideal para descrever o processo de psicoterapia.
[apesar de que, convenhamos, tanto para as teorias humanistas quanto para as psicanalíticas, "o cliente sempre tem razão!".]
Na psicanálise, a escolha das palavras é extremamente importante, pois reflete a forma como compreendemos o sujeito e sua experiência. Em vez de "paciente" ou "cliente", as psicanalistas preferem o termo "analisante". Isso porque a psicanálise vê o processo de análise como algo ativo, onde quem realmente "trabalha" é aquele que se submete à análise.
A psicanalista, por sua vez, não ocupa um lugar de poder absoluto sobre o conhecimento da psique do outro, mas sim acompanha a jornada do analisante, ajudando-o a dar sentido às suas questões e à sua subjetividade.
Outro ponto interessante é que, dentro da psicanálise, também se evita o uso do termo "indivíduo". A razão para isso está na própria etimologia da palavra: "indivíduo" sugere algo indivisível, algo inteiro e completo. Mas a psicanálise parte do princípio de que somos seres divididos – entre o que somos e o que achamos que somos, entre nossos desejos inconscientes e as demandas sociais que nos moldam.
Por isso, ao invés de "indivíduo", utilizamos "sujeito". Esse termo ressalta que estamos sujeitos a uma série de influências, desde a linguagem até as expectativas dos outros, e que nosso eu não é uma unidade fixa, mas algo em constante construção e descoberta, como um mosaico ao qual é possível adicionar vários fragmentos e contribuições.
As palavras que escolhemos para nomear as experiências humanas importam. Cada abordagem psicológica adota uma terminologia diferente porque cada uma tem uma maneira particular de compreender o ser humano e sua subjetividade.
Na psicanálise, usamos "analisante" para destacar a atividade daquele que se submete à análise e "sujeito" para reforçar a noção de que somos divididos e determinados por múltiplas forças.
Você já tinha se feito estas perguntas? Se tiver mais dúvidas sobre terminologias dentro da psicologia e da psicanálise, manda um recado pra mim. Será um prazer continuar essa conversa.